No mundo corporativo, a busca pela solução a partir da centralização da experiência do cliente exige abertura, diálogo, escuta e aceitação da diversidade de pensamentos. Para que um negócio seja de fato bem-sucedido, é preciso levar em consideração todos esses elementos, que são inerentes à maneira como as empresas se relacionam, não só com os consumidories mas com todes stakeholders.
Quando o diálogo é colocado em segundo plano, a organização corre o risco de perder oportunidades de negócio, porque deixa de compreender o outro e passa a atender às demandas de uma parcela restrita da população. Além disso, as companhias precisam saber como devem se posicionar em relação a valores, principalmente em uma sociedade tão polarizada como a nossa.
Em um diálogo sobre cultura e valores, é fundamental entender qual o lugar da empresa e do negócio e quais são os limites de cada pessoa dentro desse contexto. Como sociedade, já estabelecemos alguns valores essenciais que estão consumados na Constituição brasileira, incluindo democracia, liberdade, respeito, direitos e convivência pacífica. No entanto, eles precisam ser ressignificados e debatidos coletivamente e de forma constante.
Aceitação e aprendizado contínuo
A criação de pontes em ambientes com pensamentos divergentes, e isso inclui o mundo dos negócios, vem da vontade de cada um de se reunir entre iguais, de originar sistemas identitários e de se diferenciar das outras pessoas. No entanto, nos últimos tempos, essa construção está acontecendo de maneira violenta.
A explicação para a forma como pensamos e agimos, que às vezes pode ser mais ou menos pacífica, está diretamente relacionada à nossa cultura, às nossas experiências, à nossa estrutura familiar e à cidade onde moramos. A união desses elementos forma um arcabouço cultural, que não deveria restringir a capacidade de aprender e de refletir sobre nossos próprios atos.
No contexto da pluralidade e diversidade, precisamos entender como nos tornamos mais ou menos suscetíveis a entender o outro, ou até mesmo aceitá-lo quando não o entendemos. Nessa jornada, o ponto mais importante é respeitar os direitos básicos de cada pessoa e aceitar que não somos dones da verdade, ou seja, devemos nos colocar em uma posição de aprendizado contínuo.
Isso faz com que as pessoas questionem seus próprios atos e tragam à luz da consciência todos os aspectos culturais inconscientes que foram consolidados por uma estrutura social maior do que cada um de nós. Esse é o verdadeiro caminho da abertura para o aprendizado e para a evolução.
Diálogo e empatia
Para alcançar a comunicação não violenta e um espaço de diálogo e empatia, o primeiro passo é se libertar da mente fixa, das próprias convicções e começar a fazer questionamentos. O segundo passo é ter empatia, que para mim é quando você se coloca genuinamente no lugar da outra pessoa, para tentar aprender a partir de uma experiência diferente da sua.
A empatia também está relacionada à compaixão: mesmo que você não entenda perfeitamente a situação da outra pessoa, é possível receber a outra pessoa na dor dela e ajudá-la nesse contexto. Outro elemento importante da empatia, e talvez o mais complexo, é o sentir. Afinal, não fomos treinades para sentir, mas sim para pensar.
Permitir-se sentir é um lugar de total desconforto, principalmente sentir emoções que julgamos ser ruins e tentamos evitar a todo custo, como tristeza, angústia, ansiedade e ira. Entender o que você está sentindo e qual a origem dessa emoção é fundamental. Por isso, é tão importante valorizar o bem-estar emocional e psicológico; caso contrário, a tendência é que a comunicação aconteça de forma mais agressiva.
A emoção mais antiga da humanidade é o medo, que baseia a maioria das nossas escolhas como sociedade. Inclusive, tem uma palestra do Mia Couto, intitulada “Há quem tenha medo que o medo acabe”, que reforça justamente a ideia de que pautamos grande parte das nossas decisões a partir do medo. Isso compromete a capacidade de pensamento crítico e nos move a tomar decisões muito violentas, porque o medo se materializa na nossa frente.
A mudança começa em você
Como profissional de relações institucionais e assuntos corporativos, a minha função é, por natureza, construir pontes entre a empresa e a sociedade, passando por todas pessoas atuantes que integram a sociedade. Porém, muitas vezes, essa construção acontece em ambientes divergentes; por isso, nesses casos, além de construir pontes, é fundamental saber traduzir linguagens e pontos de vista.
O papel da empresa não é o de um ente apartado da sociedade, e sua finalidade não está restrita à produção de lucro; ela abrange também a geração de impacto social. O choque geracional dentro das organizações também é outro fator importante na geração de impacto, porque ele permite que as pessoas melhorem a partir do olhar do outro. Afinal, não existimos apenas em nós mesmos, mas sim na troca com as outras pessoas.
Portanto, para criar um espaço de diálogo e empatia, é preciso aceitar que você não é perfeito e não precisa ter respostas para tudo. O ponto crucial é mudar a si mesmo para depois começar a transformar o seu entorno. Se cada pessoa decidir tornar as coisas mais simples, se cobrar menos e se abrir para a outra pessoa, certamente tudo ficará mais leve e será possível estabelecer um ambiente plural.
Originalmente publicado em: Como construir pontes em ambientes com pensamentos divergentes? | LinkedIn