COLUNA

Pri Bertucci

[ILE/DILE & ELE/DELE]

Artista social, educadore e pesquisadore da área de diversidade há pelo menos duas décadas

Para além do binário

Identidades não binárias, autismo e a alquimia do Self Transcendente

“A noite escura da alma chega logo antes da revelação. Quando tudo está perdido e tudo parece escuridão, então vem a nova vida e tudo o que é necessário.” — Joseph Campbell, Um Companheiro Joseph Campbell: Reflexões sobre a Arte de Viver

Nos últimos meses, vivi uma experiência profundamente transformadora ao me relacionar com outra pessoa não binária e neurodivergente como eu. Foi uma dança intensa—de espelhamento, de aprendizado, de expansão, de dor e de luto. Nesse encontro, pude compreender muito mais sobre mim, sobre o outro, e sobre os sistemas arquetípicos, sobre a nossa psique e processos de transcendência que nos atravessam.

Essa vivência me levou a observar, em nível micro e macro, dinâmicas que dizem respeito não só a relações entre pessoas neurodivergentes e transgênero, mas à própria estrutura da psique humana e da sociedade. Este artigo nasce dessa imersão: um mergulho nos campos da psicologia, da espiritualidade, da alquimia e dos grandes arquétipos que operam dentro de nós—Eros e Thanatos, pulsão de vida e pulsão de morte.

A partir dessa experiência relacional, pude ver com nitidez como a psique sofre quando não consegue transitar entre as três grandes posições psíquicas: a posição autística adesiva (Francis Tustin), a posição esquizo-paranoide (Melanie Klein) e a posição depressiva (Melanie Klein). Percebi o que acontece quando um ser humano—ou mesmo uma cultura inteira—fica estagnado entre uma fixação adesiva e uma defensiva paranoide, sustentada por estruturas narcísicas que impedem o contato com a dor, o luto e a transformação.

Quando não nos disponibilizamos a entrar na posição depressiva—ou no nigredo, como diria a alquimia—perdemos o portal de integração que nos conduz ao ouro. E isso vale tanto para o indivíduo quanto para a coletividade.

Todas essas percepções inspiraram este texto. Ele é um gesto do meu coração para todas as pessoas que habitam esses territórios de travessia—sejam neurodivergentes, transgênero, não binárias ou simplesmente humanas em processo de despertar.

Aviso:

Embora este artigo trate do “self não binário”, é importante esclarecer que não estamos falando exclusivamente sobre pessoas que se identificam como não binárias em termos de identidade de gênero. O self não binário, neste contexto, refere-se a um princípio psicológico, espiritual e alquímico mais profundo, presente em todos os seres humanos:

a capacidade de transcender o pensamento binário e integrar as polaridades dentro de si—masculino e feminino, luz e sombra, eu e outro.

Independentemente de uma pessoa se identificar ou não como não binária em termos sociais ou de gênero, a jornada aqui descrita fala sobre o potencial de cada ser humano de ir além das categorias rígidas, abraçar a multiplicidade e evoluir em direção a um self integrado e transcendente.

Estamos vivendo uma era em que velhas categorias estão se dissolvendo. As rígidas dicotomias de masculino/feminino, saudável/patológico, eu/outro já não são suficientes para conter a complexidade da experiência humana. À frente dessa dissolução estão duas comunidades que, talvez não por coincidência, têm sido frequentemente marginalizadas e mal compreendidas: as pessoas neurodivergentes e as pessoas com identidades de gênero dissidentes.

E se o autismo e as identidades não binárias não forem apenas “condições” ou “identidades”, mas portais—portais para uma nova compreensão do self que transcende o pensamento binário? E se a experiência autista e a experiência não binária não forem déficits a serem corrigidos, mas caminhos de sabedoria, formas de alquimia viva?

Essa não é apenas uma proposição filosófica. Trata-se de uma estrutura emergente apoiada pela psicanálise com trabalho de Carl Gustav Jung, Melanie Klein, Donald Woods Winnicott, pela teoria queer, pelo trabalho de Francis Tustin e Wenn Lawson sobre autismo e pela experiência vivida de milhares de pessoas que são simultaneamente autistas, transgênero e/ou não binárias. E isso tem implicações profundas sobre como compreendemos o narcisismo, o trauma, a cura e o futuro da identidade humana.

“As pessoas neurotípicas vivem tentando se adaptar ao mundo. Nós, autistas, vivemos tentando que o mundo se adapte à verdade.”– Dr. Wenn Lawson

A Identidade adesiva: autismo como difusão e unidade

O conceito de identificação adesiva de Francis Tustin—ou, como alguns de nós descrevemos, Autista Adesivo—é fundamental aqui.

Tustin descreveu a posição autista não como um simples déficit de interação social, mas como uma resposta defensiva profunda a traumas precoces ou à sobrecarga sensorial. A criança autista não desenvolve plenamente as separações usuais entre o eu e o outro. Em vez disso, ela existe em um estado de adesividade, em que os limites entre o self e o mundo são difusos ou pegajosos. Isso nem sempre é patológico. Pode ser uma profunda unidade, uma conexão transcendental com o campo, o universo, a matriz da realidade.

A adesividade autista não é apenas um déficit de fronteiras. É também um retorno místico à unidade pré-diferenciada—um estado não dual onde o eu não está isolado, mas conectado em difusão.

Esse self difuso ou adesivo é também o que muitas pessoas não binárias descrevem ao falar sobre seu gênero:

“Não sou homem nem mulher. Sou ambos, nenhum e além.”

A experiência não binária é frequentemente patologizada como confusão, indecisão ou imaturidade. Mas e se ela for uma posição transcendental—um retorno, consciente ou inconsciente, à unidade anterior às distinções binárias, uma coincidentia oppositorum alquímica, o encontro dos opostos?

Muitas pessoas não binárias, especialmente as que também são autistas, não se identificam apenas entre os gêneros—elas experienciam o gênero como difusão, como um espaço transcendente onde as polaridades se dissolvem.

Na visão do Dr. Wendy Lawson, que defende não apenas representatividade, mas autonomia narrativa — o direito das pessoas autistas e trans contarem suas histórias nos seus próprios termos. Hoje, Wenn é reconhecido mundialmente como uma das vozes mais respeitadas da autodefensoria autista e um dos raríssimos autores que escrevem desde a vivência transmasculina e neurodivergente.

Wenn foi um dos primeiros estudiosos a falar abertamente sobre como o autismo pode impactar a experiência de gênero:

  • Ele propõe que a neurodivergência pode suspender as normatividades sociais, criando espaço para identidades que não se encaixam no binarismo homem/mulher.
  • Em seus textos, aponta que pessoas autistas têm mais chance de não se conformar com os papéis de gênero tradicionais, não por “rebeldia”, mas porque sua percepção é mais direta, menos moldada por expectativas sociais.
  • Ele próprio descreve sua experiência como “uma jornada entre mundos, onde tanto a linguagem quanto a identidade se tornaram alquímicas — em constante mutação e refinamento.”

Polaridade, alquimia e o self não binário

“Quando vires a tua matéria escurecer, alegra-te, pois estás no início do trabalho.” — Rosarium Philosophorum

Na alquimia, o objetivo último é transcender as dualidades. Masculino e feminino (Sol e Luna), sol e lua, enxofre e mercúrio—não são realidades fixas, mas forças polares dentro de um contínuo. A jornada do alquimista é dissolver a ilusão da separação e unir essas polaridades no caminho em direção à Pedra Filosofal— o Um no Todo.

Mas há mais.

A alquimia descreve essa união como a emergência do Hermafrodita Sagrado (Rebis). O Rebis não é apenas uma fusão física dos sexos, mas uma encarnação simbólica da dualidade transcendida—um ser que integrou todas as polaridades em uma totalidade. O Hermafrodita Sagrado era a tentativa dos alquimistas de expressar o que hoje podemos reconhecer como o self não binário.

Na época, não havia linguagem para nomear identidades ou modos de vida não binários. O Hermafrodita Sagrado não era uma fantasia, mas um arquétipo metafísico—um mapa simbólico para o self libertado e integrado.

Hoje, algumas de nós que vivemos como pessoas não binárias e que realizamos o trabalho interno profundo do “conhece-te a ti mesmo” estamos encarnando aquilo que os alquimistas apenas podiam imaginar simbolicamente.

“Nosce te ipsum”, ou “Conhece-te a ti mesmo”, é uma máxima que atravessa tanto a filosofia grega quanto o pensamento hermético. Para os gregos, especialmente Sócrates, era um chamado ético à humildade e à sabedoria: reconhecer os próprios limites era o início da verdadeira filosofia. No Hermetismo, no entanto, o autoconhecimento é uma chave esotérica—ao mergulhar para dentro de si, o ser humano descobre o reflexo do universo, pois dentro de si reside o mesmo princípio divino que governa todas as coisas.”

  • A fusão de polaridades sem colapso
  • O acolhimento da ambiguidade como potência
  • A percepção de que identidade não é um ponto fixo, mas uma dança viva e fluida entre forças opostas

O estado de nigredo é frequentemente descrito como o mais negro dos abismos da alma; um estágio de “putrefação” ou “cozimento” da alma; reduzindo-a à sua própria essência, a matéria prima, ou ” prima materia “, como os alquimistas da história antiga a chamavam.

Na alquimia tradicional, o processo de transmutação da matéria e do espírito se dá em quatro etapas simbólicas: nigredo (o enegrecimento), albedo (o branqueamento), citrinitas (o amarelamento) e rubedo (o avermelhamento). Essas fases não são apenas operações químicas metafóricas, mas mapas interiores da alma em processo de individuação e integração. O nigredo, ou “blackening”, é frequentemente descrito como o mais negro dos abismos da alma; um estágio de “putrefação” ou “cozimento” da alma; reduzindo-a à sua própria essência, a matéria prima, ou ” prima materia “, como os alquimistas da história antiga a chamavam. O nigredo marca o início da obra alquímica: é o mergulho na escuridão, na confusão, na dor e na desordem. Na linguagem da psicanálise, especialmente em Melanie Klein, essa etapa pode ser comparada à posição depressiva—um momento em que o sujeito é confrontado com a ambivalência, com a perda da idealização, e com a necessidade de sentir luto para integrar aspectos fragmentados do self. Muitas pessoas nunca conseguem sair dos abismos de nigredo. Veja o exemplo da sociedade adoecida que vivemos hoje…Algumas pessoas recorrem ao abuso de substâncias, alguns mergulham em doenças mentais e alguns chegam ao ponto de tirar a própria vida para escapar de sua escuridão. Aquelas pessoas que decidem enfrentar esse reino, no entanto, podem ser recompensadas ​​além da medida por seus esforços e ressurgir da lama e das cinzas como um pássaro com plumas de chamas.É somente ao passar por esse portal escuro que se torna possível acessar o albedo, a purificação, seguida do citrinitas, a iluminação, e finalmente o rubedo, a encarnação da totalidade, do self unificado. Assim como não há ouro alquímico sem a noite escura da alma, não há identidade integrada—não binária, fluida, ou expansiva—sem o enfrentamento radical do caos interior. O que a alquimia e a psicanálise nos ensinam, em uníssono, é que a transformação verdadeira só ocorre quando temos coragem de permanecer no fogo da desintegração, até que algo novo possa emergir.

“Ninguém pode cair tão baixo a menos que tenha uma grande profundidade. Se tal coisa pode acontecer a um homem, isso desafia o que há de melhor e mais elevado do outro lado; ou seja, essa profundidade corresponde a uma altura potencial, e a escuridão mais negra a uma luz oculta.” — CG Jung

Jung: individuação e a coniunctio

Carl Jung desenvolveu esses princípios alquímicos em seu conceito de individuação—o processo psicológico ao longo da vida de integrar o consciente e o inconsciente, o masculino e o feminino, a luz e a sombra, em uma totalidade coerente.

No centro da individuação está a coniunctio: o casamento sagrado alquímico, ou a união dos opostos. Essa união não elimina as diferenças, mas as mantém em tensão criativa, gerando um terceiro elemento transcendente.

Jung viu o Hermafrodita Sagrado como a representação dessa coniunctio realizada—o alquimista que acolheu ambas as polaridades e emergiu como um ser mais íntegro.

A identidade não binária, sob essa luz, torna-se não apenas uma categoria social, mas uma realização psicológica e espiritual:

uma expressão viva da coniunctio, onde o self deixa de ser limitado por oposições binárias e passa a se desdobrar de forma dinâmica e transcendente.

Marlene Seven Bremner: Alquimia como transcendência criativa

Marlene Seven Bremner, em suas obras Hermetic Philosophy and Creative Alchemy (2022) e The Hermetic Marriage of Art and Alchemy (2023), aprofunda essa abordagem alquímica. Ela descreve o processo criativo—e, por extensão, a individuação—como um desdobramento transcendente, que exige a dissolução de formas rígidas e o surgimento de um self fluido e integrado.

“Então, quando falamos da Trindade, trata-se dessa ideia dos três em um, e da harmonia que surge quando somos capazes de fundir os opostos. E, ao mesmo tempo, conseguir distinguir entre os três princípios, compreendendo que são um só. Essa forma paradoxal de entender o self, a realidade e os princípios da energia em ação no mundo.E quanto mais conseguimos fazer isso dentro de nós mesmes, mais vamos realizando esse andrógino divino em nosso interior. Mas eu acho que, se você realmente mergulha nos princípios herméticos, começa a compreender mais o equilíbrio entre o Sol e a Lua — especialmente nos aspectos alquímicos. Isso é algo essencial: a união, o casamento real entre o Sol e a Lua. E eu acho realmente lamentável que tudo tenha se tornado tão unilateral, focado apenas no princípio masculino como princípio criativo. Essa separação completa e essa ignorância do fato de que o Uno, a Fonte Divina, é um ser criativo — e, por isso, precisa conter ambos. Não pode ser apenas um. Não se pode ter um sem o outro no ato criativo. Acho que isso é, na verdade, um símbolo de grande ignorância — uma falha em compreender a natureza unificada de Deus. ” — Marlene Seven Bremner

Isso é exatamente o que muitas pessoas não binárias e neurodivergentes experienciam:

  • O luto pela identidade binária
  • A dissolução da certeza
  • A emergência de uma identidade fluida e transcendente que recusa se moldar a normas herdadas


A neurodivergência não binária não é uma patologia, mas uma individuação alquímica—uma morte e renascimento para uma ordem mais elevada de existência.

Klein e Winnicott: narcisismo, cisão e caminho de integração

Melanie Klein e D.W. Winnicott oferecem insights profundos sobre como o pensamento binário cria sofrimento—e como experiências não binárias podem ser caminhos de cura.

Klein descreveu a posição esquizo-paranoide, comum nos primeiros estágios do desenvolvimento, como uma estrutura mental onde o mundo é dividido em bom e mau, certo e errado. Esse tipo de divisão, quando mantido na vida adulta, alimenta mecanismos de defesa rígidos e até narcisistas.

A posição depressiva, por outro lado, permite a integração da ambivalência, a aceitação da complexidade e a vivência do luto. É aí que ocorre a cura.

Winnicott, por sua vez, nos oferece o conceito de Self Verdadeiro — aquele que só floresce quando há um ambiente suficientemente bom. Já o Self Falso surge como adaptação a contextos hostis, normativos e invasivos. Para muitas pessoas não binárias e autistas, a jornada é justamente retornar ao Self Verdadeiro.

Narcisismo e a armadilha binária

O narcisismo não é vaidade. É medo. Medo da alteridade. Medo do colapso das categorias que sustentam o ego. É por isso que pessoas trans, autistas e não binárias enfrentam tantas projeções, ataques e rejeições: porque sua existência encarna a ambiguidade que ameaça o pensamento binário.

Quando uma sociedade ou um indivíduo não consegue tolerar a ambiguidade, recorre à cisão. E da cisão nasce o narcisismo como defesa. A cisão opera por meio da divisão rígida entre “bom” e “mau”. E nós, enquanto pessoas trans, precisamos nos perguntar com honestidade se os discursos que produzimos em defesa de nossas identidades não estão, por vezes, reproduzindo essa mesma lógica binária — colocando as pessoas cis no lugar do “mau” e as pessoas trans como as “boas”. Seriam essas duas faces da mesma moeda? Quando repetimos a cisão, mesmo que com outra roupagem, não perpetuamos o próprio mecanismo que nos fere?

A posição esquizoparanoide (como descrita por Melanie Klein) é marcada por defesas altamente arcaicas: cisão entre “bom” e “mau”, projeção das partes negativas no outro e experiências de perseguições, imaginárias ou reais. A superioridade moral e intelectual frequentemente observada nessa posição funciona como uma defesa narcísica rígida. Nesse modo de funcionamento, o outro é constantemente percebido como ameaça à integridade do eu.

A empatia—que exige a dissolução temporária da própria perspectiva para acolher a do outro—torna-se insuportável.

Alguém que controla relações para evitar a vulnerabilidade verdadeira apresenta traços de narcisismo associados a uma rigidez emocional típica de autismo não tratado e, possivelmente, a um funcionamento esquizoparanoide.

O pensamento binário alimenta o narcisismo. A transcendência o ameaça.

Trans, não binárias e neurodivergentes: novas alquimistas

Vivemos um tempo em que pessoas trans, não binárias e neurodivergentes estão se erguendo como visionárias de um possível futuro — não apenas sobrevivendo, mas oferecendo novos paradigmas. Isso não é coincidência. É sinal de uma revolução em curso.

Pesquisas recentes têm evidenciado uma sobreposição significativa entre o espectro autista e identidades de gênero diversas. Estudos apontam que entre 15% e 35% das pessoas trans e não binárias recebem diagnóstico de autismo — um número muito superior à média da população geral, que gira em torno de 1 a 2% (Nature Communications, 2020; The Transmitter, 2022). Jovens de gênero diverso têm de 3 a 6 vezes mais chances de relatar diferenças sensoriais, como hipersensibilidade a sons, luzes e texturas — traços frequentemente associados ao autismo (Journal of Adolescent Health, 2018; The Transmitter – Sensory Differences). Além disso, adultos autistas que se identificam como não binários costumam relatar identidades de gênero mais fluidas e expansivas, desafiando normas sociais binárias — o que pode estar ligado ao pensamento divergente e à menor conformidade com expectativas de gênero típicas (Cooper et al., 2022; Warrier et al., 2020).

Reflexões práticas: caminhos de compreensão

  1. Educar além dos binarismos.
    Ensine que gênero, neurologia e identidade são espectros—não categorias fixas. Use metáforas acessíveis: espectro de luz, escalas musicais ou a dualidade onda-partícula da física quântica.
  2. Normalizar a difusão e a ambiguidade.
    Ajude as pessoas a compreenderem que o que muitas vezes é percebido como “confusão” é, na verdade, a complexidade natural da realidade emergindo.
  3. Transitar da posição esquizo-paranoide para a posição depressiva.
    Incentive práticas que permitam sentir emoções difíceis, integrar partes conflitantes do self e tolerar a ambiguidade.
  4. Reconhecer defesas narcísicas em si e nos outros.
    Perceba quando você (ou outres) estiver fragmentando, desvalorizando ou categorizando rigidamente como forma de defesa contra o medo ou o trauma.
  5. Criar ambientes de acolhimento (Winnicott).
    Ofereça espaços relacionais onde as pessoas possam ser autênticas sem medo de julgamento—seja na terapia, na comunidade ou em redes de afeto escolhidas.
  6. Honrar a experiência autista e não binária como caminhos de sabedoria.
    Essas vivências não são desvios da norma, mas mapas para a evolução da consciência humana.

📚 Fontes e leituras complementares

1. Jung, C.G. – Psychology and Alchemy
📅 Publicado em 1944
✍️ Autor: Carl Gustav Jung

Um dos textos mais fundamentais de Jung, onde ele propõe que os símbolos alquímicos da Idade Média refletem os processos psíquicos da transformação interior. A obra marca a junção entre psicologia analítica e hermetismo, e introduz a ideia de que o inconsciente trabalha por meio de imagens simbólicas — essenciais à individuação.


2. Jung, C.G. – Mysterium Coniunctionis: An Inquiry into the Separation and Synthesis of Psychic Opposites in Alchemy
📅 Publicado entre 1955–1956
✍️ Autor: Carl Gustav Jung

Considerado o ápice de sua obra alquímica, Jung investiga a união dos opostos psíquicos (anima/animus, consciente/inconsciente) como expressão do processo de individuação. Essa obra é um tratado profundo sobre a coniunctio, símbolo da totalidade e do Self.


3. Bremner, Marlene Seven – Hermetic Philosophy and Creative Alchemy: The Emerald Tablet, the Corpus Hermeticum, and the Journey Through the Seven Spheres
📅 Publicado em 2022
✍️ Autora: Marlene Seven Bremner

Uma leitura contemporânea e acessível sobre a tradição hermética e sua aplicação no processo criativo. Bremner articula os princípios alquímicos com práticas espirituais e artísticas, conectando mitologia, astrologia e psicologia simbólica.


4. Bremner, Marlene Seven – The Hermetic Marriage of Art and Alchemy: Imagination, Creativity, and the Great Work
📅 Publicado em 2023
✍️ Autora: Marlene Seven Bremner

Continuação e aprofundamento de sua obra anterior, este livro trata da imaginação ativa como ferramenta alquímica. A autora defende que a arte é um espelho da alquimia interna, sendo o artista uma figura liminar entre mundos, capaz de expressar o inconsciente coletivo.


5. Warrier, V., Greenberg, D.M., Weir, E., et al. – Elevated rates of autism, other neurodevelopmental and psychiatric diagnoses, and autistic traits in transgender and gender-diverse individuals
📅 Publicado em 2020
📘 Nature Communications

Estudo de grande impacto que demonstra uma correlação significativa entre diversidade de gênero e traços autistas. Reforça a importância de abordagens clínicas e sociais que compreendam intersecções entre neurodivergência e identidade de gênero.


6. Strang, J.F., et al. – Gender Dysphoria and Autism Spectrum Disorder: A Narrative Review
📅 Publicado em 2018
📘 Journal of Adolescent Health

Uma revisão narrativa que discute os desafios clínicos e existenciais de adolescentes trans com diagnóstico de autismo. Destaca a necessidade de abordagens afirmativas, integradas e não patologizantes.


7. Cooper, K., Mandy, W., & Pellicano, E. – Autistic women and girls: A narrative review of the literature
📅 Publicado em 2022
📘 Journal of Autism and Developmental Disorders

Este artigo analisa como meninas e mulheres autistas são subdiagnosticadas e frequentemente mal compreendidas. Discute a camuflagem social e as especificidades da expressão autista no feminino, com implicações clínicas e sociais importantes.


8. Tustin, Frances – Autism and Childhood Psychosis
📅 Publicado originalmente em 1990 (1ª ed. em 1972)
✍️ Autora: Frances Tustin

Uma das primeiras psicanalistas a escrever extensamente sobre autismo. Sua abordagem associa o autismo a mecanismos de defesa psicóticos frente à fragmentação do self. Apesar das críticas contemporâneas, sua obra ainda é influente e serve como ponto de partida para releituras mais inclusivas.


9. Klein, Melanie – Notes on Some Schizoid Mechanisms
📅 Publicado em 1946
✍️ Autora: Melanie Klein

Obra central da teoria kleiniana, introduz conceitos como a posição esquizo-paranoide e posição depressiva, essenciais para pensar a organização psíquica primitiva — inclusive em pessoas autistas, sob releituras atuais que evitam patologização.


10. Winnicott, D.W. – The Maturational Processes and the Facilitating Environment
📅 Publicado em 1965
✍️ Autor: Donald W. Winnicott

Coletânea de ensaios sobre desenvolvimento emocional, verdadeiro self e a importância do ambiente suficientemente bom. Winnicott abre espaço para pensar a contenção afetiva como forma de permitir o florescimento do ser, especialmente em crianças com estruturas psíquicas atípicas.


11. Bertucci, P. & Zanella, A. – Dossiê de Linguagem Neutra Inclusiva
📅 Publicado em 2021
✍️ Autores: Pri Bertucci & Andrea Zanella

Obra pioneira que propõe a neutralização de gênero na língua portuguesa a partir do uso do “E” como marcador neutro e do primeiro pronome neutro da língua portuguesa “ile/dile”. O livro reúne reflexões políticas, linguísticas e culturais, conectando diversidade, ancestralidade e tecnologia em um novo paradigma de linguagem.

COLUNISTA

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Pri Bertucci

[ILE/DILE & ELE/DELE]

Artista social visionárie e pós-ativista, dedicou mais de duas décadas trabalhando na interseção da diversidade, empreendedorismo e arte. Pri atua como CEO da [DIVERSITY BBOX], consultoria especializada em educação e inovação, é fundadore do Instituto [SSEX BBOX], um projeto pioneiro sobre gênero e sexualidade que tem sido uma plataforma para justiça social em San Francisco, São Paulo, Berlim e Barcelona desde 2009. Pri também é reconhecide como um dos principais pioneiros do acrônimo LGBTQIA+ no Brasil desde 2013. Como palestrante, educadore e pesquisadore de renome internacional, Pri tem um compromisso profundo com o fomento do pertencimento e compreensão através das fronteiras culturais e pessoais. Identifica-se como pessoa não branca, trans não binário/genderqueer e desafia as normas sociais. Celebrado internacionalmente como o pioneiro e co-criador do “SISTEMA ILE”, o primeiro pronome de linguagem neutra em português, Pri facilitou ativamente a introdução do sufixo neutro ‘E’ em palavras da língua portuguesa. Pri Bertucci é ganhadore dos Prêmios TikTok 2022 e dos Prêmios da Fundação Brasil 2020. Ile também foi indicade para o Outie Awards “Global LGBTQ+ Advocate of the Year” durante o Out & Equal Summit 2022, o maior evento LGBTQIA+ do mundo. Como idealizadore e produtore executivo da Marcha do Orgulho Trans de São Paulo — primeira Trans Pride no Brasil — Pri Bertucci emprega suas habilidades criativas e artísticas para impulsionar mudanças sociais. Seu trabalho, integrando arte multimídia, uma abordagem somática e Comunicação Não Violenta (CNV), fomenta colaborações com pessoas e organizações nas comunidades, promovendo novas perspectivas e comportamentos enquanto desafia as normas sociais. Em 2023, fez uma contribuição significativa quando criou o primeiro tradutor de linguagem neutra e participando da criação da primeira inteligência artificial generativa não binária do mundo.
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No Instituto [SSEX BBOX] realizamos projetos e advocacy que visam destacar a diversidade, inclusão e a equidade sobre os temas de gênero, sexualidade, população LGBTQIAP+, raça, etnia e pessoas com deficiência.

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