No final do século passado, previsões otimistas apostavam que o século XXI nas sociedades ocidentais seria um tempo de igualdade e respeito às diferenças nas formas de ser, pensar e sentir. Uma nova era, com gente fina, elegante e sincera, como apregoa a música. No entanto, muitas vozes são uníssonas em afirmar que esse cenário não se concretizou em muitos aspectos, tanto na vida pessoal quanto no mercado de trabalho. O Instituto de Relações Governamentais (IRELGOV), primeiro think tank do Brasil do segmento, traçou um quadro da inclusão de gênero, cor e orientação sexual, entre outros, e comprovou que ainda há muito a ser feito.
Para nós, profissionais do lobby, que defendemos regras claras e transparência para garantir que os diferentes interesses que compõem o tecido social sejam ouvidos e respeitados nas tomadas de decisão do poder público, lutar por diversidade e inclusão é algo natural.
Além de justa, a inclusão da diferença traz benefícios organizacionais diretos para empresas e sociedade, como aumento de criatividade, ambiente de trabalho saudável, inovação pelas diferentes perspectivas de vida e mundo e maior capacidade de resolução de conflitos.
No entanto, de acordo com o Anuário Origem, apoiado pelo IRELGOV, apesar das mulheres representarem 41,9% do total de profissionais na área de relações institucionais, ocupam menos de 1/3 das posições de liderança. Em posições como as de estágio e trainee, a situação é ainda pior: somam apenas 26,2%.
No campo da orientação afetivo-sexual, a situação é igualmente ruim. Dados sobre a população LGBTQIAP+, apontam que somente 36% se assumem para os colegas e 73% testemunham atos de homofobia no local de trabalho. Segundo pesquisa concluída pela consultoria Santo Caos, 61% escondem o fato na empresa em que atuam, enquanto 41% disseram já ter sofrido discriminação.
A afirmação de que não há racismo no Brasil é categoricamente contestada por pesquisa recente realizada por uma plataforma de empregos em parceria com o Instituto Guetto, na qual foi constatado que 47% dos profissionais negros não têm a sensação de pertencimento nas empresas em que trabalham. Além disso, 60% dos entrevistados já se sentiram discriminados no ambiente de trabalho.
A falta de inclusão permanece quando o tema é deficiência. De acordo com o IBGE, há cerca de 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, ou seja, 25% da população. No entanto, apesar dos 30 anos de existência da lei de cotas, em 2019, do total de PCDs no Brasil somente 0,9% estavam presentes no mercado de trabalho. Esses dados refletem a falta de representatividade ou, em outras palavras, a quase ausência de políticas sólidas de diversidade e inclusão.
Um mundo cada vez mais plural e complexo exige diversidade de origens e de formas de enxergar a realidade. A sociedade brasileira só conseguirá entrar na rota do desenvolvimento sustentável quando souber aproveitar ao máximo sua origem multifacetada, seu tecido social complexo e aceitar suas diferentes convicções e condições. Os profissionais de relações governamentais sabem que o caminho é longo, mas já abraçaram o desafio e estão dispostos a contribuir para que o país construa um futuro acolhedor e que proporcione condições iguais para todos, sem exceções.
Originalmente publicado no Estadão: Não há futuro sem diversidade – Estadão (estadao.com.br) quando ainda exercia a Presidência do IRELGOV, 2021. O mandato terminou em maio de 2022.