COLUNA

Suelma Rosa

[ELA/DELA]

Diretora Sênior de Reputação e Assuntos Corporativos para América Latina na Unilever

O poder da influência e a irrelevância do cargo

LIDERANÇA: “dall’autorità all’autorevolezza”​

Há uns anos, um amigo italiano me disse que a influência era mais importante do que a hierarquia. Nunca lhe disse, mas suas palavras me influenciaram a exercer livremente liderança mesmo quando não investida do poder hierárquico. A oportunidade de celebrar as festas de final de ano naquele país me fez recordar do aprendizado quase esquecido: a diferença entre AUTORITÀ e AUTOREVOLEZZA.

Em italiano, existem duas palavras para AUTORIDADE: autorevolezza e autorità. A primeira tem a força da razão, do mérito, da reputação, da credibilidade, da competência, da influência, sendo associada às características de um líder. A segunda está relacionada ao exercício legítimo do poder pelo cargo, pela função, pelo Direito, portanto, relacionada à hierarquia e à responsabilidade formalmente constituídas.

As palavras não são apenas uso e definição. Nascem de uma construção histórica, revestida de sentido e contextualizada pela cultura. Tudo isso lhe atribui significado. O estudo da origem das palavras, a etimologia, é um fascinante instrumento para entender o porquê de o idioma italiano, criado no século XIV, dividir em duas partes a palavra autoridade.

AUTORITÀ origina-se do latim “auctorĭtas –atis” (legitimidade e prestígio), derivado de “auctor –oris” (entendido como promotor, criador, autor), que por sua vez decorre de “augēre” (interpretado pelos romanos como o desejo dos deuses, usado para fazer referência aos sacerdotes que na formulação de seus presságios acrescia o poder divino). No âmbito jurídico-político-institucional-religioso, significava a posição de quem estava investido de poder e função de comando, legitimamente adquirido e reconhecido.

AUTOREVOLÉZZA decorre do adjetivo “autorevole” do século XIV oriundo de “caritatevole, onorevole”, que por sua vez decorre de “auctor –oris”, ponto no qual encontra intersecção com a etimologia de AUTORITÀ. Então, como houve a separação? O “auctor –oris” também se utilizava para designar o autor de uma ferramenta, um objeto, ou seja, um artífice ou um artesão, mestre e detentor do conhecimento de como fazer. Era “auctor –oris” pela força do seu mérito, da sua capacidade, da sua reputação, do seu conhecimento, da sua competência.

Em resumo, AUTORITÀ emergiu no italiano recuperada do latim “auctorĭtas –atis”, porém com o seu uso imediatamente associado ao exercício do poder. AUTOREVOLEZZA, por seu turno, trata de uma atitude de reconhecer a capacidade de servir de modelo, de base, de vanguarda, de inspiração, por tanto, de influenciar pelo conhecimento e pela expertise.

Quantos em posições hierárquicas conhecemos que não possuem preparo? Melhor é ser inspiração, influenciador, por mérito, por reputação, por credibilidade e por competência.

O objetivo não era demonstrar erudição, se é que alguma pessoa leitora resistiu com bravura até o final. Era agradecer ao amigo italiano, que me ensinou em tempo a irrelevância de cargos e de posições hierárquicas. As verdadeiras lideranças não precisam de poder de mando para influenciar e inspirar. Aqueles que se prendem ao poder de mando, da posição, não possuem autorevolezza ou gravitas, nem impactam pessoas.

Texto publicado originalmente no LinkedIn : O poder da influência e a irrelevância do cargo. LIDERANÇA: “dall’autorità all’autorevolezza”​.

COLUNISTA

Suelma-Rosa

Suelma Rosa

[ELA/DELA]

Diretora Sênior de Reputação e Assuntos Corporativos para América Latina na Unilever e Co-fundadora e Membro do Conselho Impulsinador da Women in Government Relations. Suelma é professora da Escola Aberje de Comunicação, Doutora no Departamento de Ciência Política da Universitè Paris I: Pantheòn – Sorbonne, Mestre em Política Internacional e Comparada pela Universidade de Brasília, MBAs em Estratégia empresarial e Gestão de Projetos pela FGV, Especialista em Negociação e Gestão de Conflito pelo Harvard Negotiation Institute e Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília, coordenou cursos de graduação em Relações Internacionais em Brasília e leciona em programas de graduação e pós-graduação desde 2005 no Brasil e exterior. Em 20 anos de carreira, atuou no Governo Federal brasileiro na área de Comércio e Negociações Internacionais, servindo em países como China, Índia, Japão e Suíça. Liderou estratégia de advocacy de Sustentabilidade, Mudanças Climáticas, Meio Ambiente, Infraestrutura e Compras Públicas em ONG Internacional e nas Nações Unidas em Convenções e Tratados Internacionais, bem como nos marcos normativos nacionais de países da América Latina e Caribe.
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