COLUNA

Claire Rumore

[ELA/DELA]

Guia da sabedoria erótica, educadora e cofundadora do Instituto [SSEX BBOX].

Triângulo do Drama

Compreendendo o Triângulo do Drama de Karpman no Ambiente de Trabalho: 

O Triângulo do Drama, um conceito desenvolvido por Stephen Karpman, é uma ferramenta valiosa para entender as dinâmicas de poder e conflito em ambientes corporativos e no mercado de trabalho global.

Ao abordar o conceito do Triângulo do Drama no ambiente corporativo, é essencial considerar as dinâmicas de poder e as desigualdades que afetam grupos historicamente minorizados. A interseccionalidade, a operação de classe e a valorização da diversidade, equidade, inclusão e pertencimento devem estar no centro desta análise. Somente assim poderemos entender essas dinâmicas de forma completa e promover um ambiente de trabalho mais justo e respeitoso para todos.

Uma Perspectiva Espiritual sobre Dinâmicas Relacionais – Parte 1

No cenário das dinâmicas de trabalho, o Triângulo do Drama de Karpman é um conceito que pode lançar luz sobre as maneiras sutis, mas poderosas, em que os indivíduos interagem e muitas vezes criam conflitos desnecessários entre si. 

Compreender o Triângulo do Drama é fundamental para fomentar um ambiente de trabalho (e também doméstico) saudável, produtivo e harmonioso de forma consistente. Neste artigo, exploraremos o Triângulo do Drama, os três papéis dentro dele e como conceitos espirituais, como os trabalhos de sombras, o processamento de polaridade e os espirais de vergonha, se relacionam com esse framework. Ao final, você terá as ferramentas para identificar esses papéis em si mesmo e nos outros, permitindo que você guie sua organização para fora do drama e para um espaço de clareza, crescimento e harmonia.

Então, o que exatamente é o Triângulo Dramático de Karpman?

O Triângulo do Drama de Karpman, desenvolvido pelo Dr. Stephen Karpman em 1968, é um modelo social de interação humana que mapeia um tipo de interação destrutiva que pode ocorrer entre pessoas em conflito. O modelo destaca a conexão entre responsabilidade pessoal e poder nos conflitos, e os papéis destrutivos e constantemente mutáveis que as pessoas desempenham.

Karpman identificou três papéis consistentes nos quais as pessoas se colocam ou colocam os outros, muitas vezes de forma subconsciente. Esses papéis são: a **Vítima** (a posição inferior), o **Perseguidor** (ou Vilão) e o **Salvador** (ou Herói, também visto como a posição superior). Esses papéis são fluidos, e os indivíduos podem mudar entre eles – até mesmo de um momento para o outro, criando um ciclo de drama que perpetua a disfunção relacional e a toxicidade.

Vamos examinar esses papéis mais de perto:

1. Papel de Vítima: Nota: “A Vítima” neste modelo não pretende representar uma vítima real, mas sim alguém que se sente ou age como uma Vítima. A postura da Vítima é “Coitado de mim! Isso sempre acontece comigo.” A Vítima sente-se vitimizada, oprimida, impotente, desesperançada, sem poder, envergonhada, além de se sentir injustiçada pelos outros, e parece incapaz de tomar decisões, resolver problemas, encontrar prazer na vida ou atingir um nível de autopercepção suficiente para se retirar de seus padrões repetitivos e incapacitantes. A Vítima, se não estiver sendo perseguida, buscará uma pessoa para desenvolver o papel de “Perseguidor” e também uma outra para o papel de “Salvador” que salvará o dia, mas que também irá perpetuar e reforçar os sentimentos negativos da Vítima. A Vítima tende a buscar validação para seu sofrimento percebido, reforçando um senso de dependência e inadequação. Além disso, a Vítima inconscientemente deseja ser resgatada ou receber algo de graça, sentindo-se merecedora e, às vezes, com um senso de justiça.

2. Papel de Perseguidor:  A frase de quem ocupa ou se reconhece no papel de “Perseguidor” insiste: “É tudo culpa sua.” Esse personagem é controlador, crítico, opressor, autoritário, rígido, e se vê como superior. Esse papel geralmente é rígido, autoritário e frequentemente usa a agressão (seja ela aberta ou velada) para manter o controle e a superioridade. O Perseguidor justifica seu comportamento acreditando que a Vítima merece suas críticas e tratamento inadequado.

3. Papel de Salvador: A frase de quem ocupa ou se reconhece no papel “do Salvador”  é: “Deixe-me ajudar você.” Um facilitador clássico, o Salvador sente-se culpado se não correr para salvar a Vítima, muitas vezes sem ser solicitado. No entanto, seu resgate tem efeitos negativos. Esse papel parece ser benevolente, mas pode gerar codependência ao perpetuar o sentimento de impotência da Vítima e reforçar a necessidade do Salvador de se sentir “necessário”. A principal recompensa derivada desse papel de resgate é que o foco é retirado “do Salvador”. Quando ele concentra sua energia em outra pessoa, isso lhe dá uma razão “justificável” para ignorar sua própria ansiedade e problemas. O papel do resgate é essencial para sua estratégia de sobrevivência porque sua motivação inconsciente, mas muito poderosa, é na verdade uma evasão de seus próprios problemas disfarçada de preocupação altruísta com as necessidades da Vítima. “O Salvador” pode, na verdade, negligenciar suas próprias necessidades enquanto tenta resolver os problemas da Vítima, o que pode levar ao ressentimento.

As Dimensões Espirituais do Triângulo do Drama 

O Triângulo do Drama de Karpman não é apenas um modelo social ou psicológico; ele também se cruza com conceitos espirituais mais profundos que influenciam como nos percebemos e como interagimos entre nós como sociedade e dinâmicas relacionais. Compreender essas dimensões espirituais pode nos ajudar a ir além do drama e a entrar em um lugar de cura e empoderamento. 

Vamos examinar três deles mais de perto: 

Trabalho de Sombra

O trabalho de sombra envolve trazer à luz partes inconscientes de nós mesmos – aquelas que negamos ou das quais não temos consciência – e, ao fazê-lo, devolver a nós mesmos um senso de integridade e unidade. No contexto do Triângulo do Drama, os papéis que desempenhamos muitas vezes resultam de aspectos não resolvidos de nossa própria sombra, embora possamos querer apontar que a sombra da outra pessoa é a que está em jogo. Por exemplo, alguém que se identifica como “Salvador” pode estar suprimindo seus próprios sentimentos de inadequação ou uma necessidade profunda de validação quando se lança para facilitar as coisas para a “Vítima”. Ao reconhecer e integrar esses aspectos sombrios, podemos começar a sair dos papéis habituais que desempenhamos e nos envolver com as outras pessoas a partir de um lugar de integridade.

Processamento de Polaridade

O processamento de polaridade é a prática de entender e integrar forças opostas dentro de nós. No Triângulo do Drama, os papéis de “Vítima”, “Perseguidor” e “Salvador” representam polaridades nas quais podemos nos prender. É importante notar que esses papéis são um pacote, eles vêm juntos. Portanto, por exemplo, se sua identificação mais forte é com o “Salvador” – muitas vezes também chamado de ‘curador’ – então observe bem onde a “Vítima” e o “Perseguidor” em você estão escondidos. A “Vítima”, o “Salvador” e o “Perseguidor” formam um triângulo interconectado. A “Vítima” se sente impotente, o “Perseguidor” se sente poderoso, e o “Salvador” se sente necessário. Se você se identifica com um desses papéis, os outros dois também serão arquétipos fortes em sua vida, provavelmente de forma inconsciente. No entanto, uma coisa a notar é que esses papéis não são estados fixos; são polaridades que podem ser equilibradas. Por exemplo, reconhecer que o papel da Vítima também contém o potencial para empoderamento e soberania pode ajudar a mudar a dinâmica da impotência para a agência e começar a desmantelar as distorções mantidas nos papéis de “Perseguidor e Salvador”, ajudando todo o castelo de cartas a desmoronar em uma integração dentro de você.

Espirais de Vergonha

As espirais de vergonha são ciclos de autocrítica negativa e emoções que podem levar os indivíduos a se sentirem indignos ou defeituosos. As espirais de vergonha podem ser direcionadas para fora, onde culpamos os outros pelo que está acontecendo, ou para dentro, onde nos culpamos. 

No ambiente de trabalho, alguém preso no papel de “Vítima” pode entrar em uma espiral de vergonha, acreditando que é inerentemente inadequado ou incapaz de atender às expectativas e, assim, se auto deprecia internamente. Em outras situações no local de trabalho, um grupo pode se fragmentar e culpar os outros externamente pela dificuldade que o grupo está enfrentando. Ambos os tipos de espirais de vergonha podem perpetuar a mentalidade de “Vítima”, tornando difícil romper com o Triângulo do Drama. Compreender e abordar as raízes da vergonha pode ajudar os indivíduos a sair do papel de “Vítima”, e assim do Triângulo do Drama, e a recuperar seu senso de valor e paz interior.

Identificando e Abordando o Triângulo do Drama no Local de Trabalho

Reconhecer quando você ou outra pessoa está desempenhando um papel no Triângulo do Drama é o primeiro passo para romper o ciclo. Aqui estão algumas dicas para ajudar você a identificar e abordar essas dinâmicas no local de trabalho:

1. Consciência: Preste atenção em como você se sente nas interações com as outras pessoas. Você se sente impotente (Vítima), crítico (Perseguidor) ou excessivamente responsável pelos problemas dos outros (Salvador)? A autoconsciência é fundamental para reconhecer quando você está escorregando para um (ou mais) desses papéis.

2. Comunicação: Promova uma comunicação aberta e honesta em sua organização. Incentive os membros da equipe a expressarem nitidamente suas necessidades e limites. Quando as pessoas se sentem ouvidas e respeitadas, é menos provável que sucumbam à atração do Triângulo do Drama.

3. Empoderamento: Concentre-se em soluções em vez de culpar. Se alguém está se identificando como Vítima, oriente-o suavemente a encontrar seu próprio poder na situação. Isso pode envolver estabelecer expectativas nítidas, oferecer apoio e encorajar a responsabilidade pessoal.

4. Modele Comportamentos Saudáveis: Como líder ou influenciador em sua organização, modele comportamentos que saiam do Triângulo do Drama. Mostre como se envolver na resolução de conflitos sem recorrer à culpa, ao resgate ou à vitimização.

Aqui uma historinha como Exemplo:

UM CASO DE DRAMA DIGNO DE NOVELA

Imagine Jorge, um funcionário que constantemente se sente esgotado e subvalorizado em seu local de trabalho. Ele pode se enxergar como uma vítima, crendo que sua chefe, Peppa, o sobrecarrega injustamente com uma quantidade excessiva de tarefas. Susie, uma colega bem-intencionada, percebendo a dificuldade de Jorge, entra em cena como a Salvador. Ela se oferece para ajudar em algumas das responsabilidades de Jorge ou até mesmo conversa com Peppa em nome dele. 

Embora essa ajuda possa parecer um alívio imediato, ela não soluciona as questões mais profundas — como a dificuldade de Jorge em estabelecer limites claros, a falta de percepção de Peppa sobre o impacto da sobrecarga de trabalho em Jorge, ou o próprio desejo de Susie em se sentir necessária e útil.

Ao identificar e nomear essa dinâmica como o “Triângulo do Drama”, todos os envolvidos podem começar a modificar suas abordagens. Jorge seria encorajado a comunicar de maneira assertiva suas preocupações relativas à carga de trabalho, Peppa poderia ser aconselhada a ouvir e responder com mais empatia, e Susie poderia continuar a oferecer suporte, mas sem assumir as responsabilidades de Jorge. Essa transformação pode mudar um ambiente de trabalho repleto de tensões para um espaço onde a comunicação clara e o respeito mútuo são valorizados e praticados.

O Triângulo do Drama de Karpman é uma ferramenta poderosa para entender e transformar dinâmicas relacionais no ambiente de trabalho. Ao trazer consciência para os papéis de” Vítima, Perseguidor e Salvador”, e compreender os conceitos espirituais de trabalho de sombra (Shadow work), processamento de polaridade e espirais de vergonha, podemos começar a desvendar os padrões que nos mantêm presos. À medida que você cultiva esses insights em sua organização, com a ajuda de pessoas educadoras e consultorias especializadas nesse trabalho, verá que o drama diminui tanto nos indivíduos quanto no coletivo, e um ambiente de trabalho mais harmonioso e empoderado emerge naturalmente.



Reflexões ainda mais profundas:

COLUNISTA

Claire Rumore

Claire Rumore

[ELA/DELA]

Claire Rumore é cofundadora do Instituto [SSEX BBOX]. Sediada na vibrante área da Baía de São Francisco, ela é sexóloga social e somática, educadora e mentora, dedicada ao estudo e apoio a pessoas na compreensão das dimensões internas e externas de suas orientações sexuais, expressões de gênero e identidades de gênero. Claire possui formação em psicoterapia somática, práticas de movimento tântrico e educação sexual tradicional. Ela é certificada em modalidades de exploração erótica e autoconhecimento, como Erotic Blueprints™, Urban Tantra™ e Totality Therapy™. Claire também tem experiência em gestão de projetos ágeis, inovação tecnológica e desenvolvimento e implementação de IA. Sua abordagem de trabalho combina coaching, aconselhamento, ensino e mentoria, enriquecidos por criatividade, compaixão e curiosidade, para explorar as interseções entre humanidade, sexualidade, tecnologia e evolução.
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