COLUNA

Klaus Anibal

[ELE/DELE]

Eng. Ambiental com expertise em DE&PI, liderança inclusiva e representação global na Uber.

Representatividade LGBTQIAP+ no audiovisual

Durante muito tempo e ainda nos dias atuais, sentimos a falta de representatividade e a propagação de um estereótipo de grupos minoritários no mercado audiovisual, como a comunidade LGBTQIAP+, pessoas pretas e pardas que representam quase 60% da população do Brasil de acordo com o IBGE, pessoas indígenas, entre outros grupos que fogem do padrão cisheteropatriarcal homogêneo. 

A ausência de representatividade frequentemente gera um distanciamento, levando as pessoas a questionar seu lugar e por que não estão representadas, assim como a pressão para aderir a normas e comportamentos pré-definidos por grupos sociais. Isso é especialmente notável no mundo do entretenimento, onde a falta de representação LGBTQIAP+ ocorre tanto nas telas como nos bastidores, desde a concepção até a veiculação de filmes e séries por grandes serviços de streaming como Netflix, Amazon, HBO e Disney.

A representatividade promove a inclusão, a igualdade e a diversidade, criando sociedades mais justas e equitativas. Além disso, ela tem um impacto significativo na autoestima, na identidade e na auto aceitação das pessoas, permitindo que se sintam validadas e representadas.

Em 2023, é notável que exista uma evolução neste cenário, mas ainda faz sentido questionar se de fato as pessoas entendem o motivo e importância desta mudança ou se estão fazendo apenas para mostrar uma imagem de diversidade e evitar a cultura do cancelamento.

Trago aqui algumas recomendações de séries e filmes que retratam a nossa comunidade e nossa luta, além de servir como um processo educacional para as pessoas aliadas.

Heartstopper: Inspirada nas graphic novels de Oseman, a série conta a história dos adolescentes Charlie e Nick que descobrem que sua amizade pode ser algo a mais e ao mesmo tempo em que se apaixonam, eles precisam lidar com as dificuldades da vida escolar e amorosa.

Pose: A série se passa Nova Iorque entre as décadas de 1980–1990 e aborda a cultura e os desafios enfrentados pelas pessoas da comunidade LGBTQIAP+ envolvidas na cena ballroom da cidade. A série explora temas como identidade, discriminação, resiliência e busca por aceitação além de trazer um tema super relevante como HIV. Uma das séries mais importantes a usar o “Sistema Ile” ou linguagem neutra de gênero nas legendas em portugues.

Sex Education:  A última temporada de “Sex Education” se destaca por sua honestidade brutal e empoderamento dos personagens. Após três temporadas envolventes e agradáveis, a quarta parte da série, disponível na Netflix, chegou para dar um desfecho de resistência e força para pessoas LGBTQIAP+ e grupos minorizados. Temas como pessoas com deficiência, abusos, religião são abordados de forma impecável pelo roteiro e personagens. Vale lembrar que a série também tem personagens não binários protagonizando e usa o “Sistema Ile” ou linguagem neutra na língua portuguesa para representar esses personagens na legenda e dublagem para português.

Looking: Acompanha três amigos que moraam em São Francisco, na Califórnia em momentos diferentes em suas vidas passando por preconceito e emoções avassaladoras. Esta série com certeza merecia mais temporadas.

Special: Uma série que me cativou devido à sua abordagem interseccional. A história de Ryan Hayes, um jovem gay com uma leve paralisia cerebral, é uma jornada de autodescoberta e superação que nos emociona profundamente. A série destaca as complexidades do cotidiano de Ryan, evidenciando o preconceito e a falta de acessibilidade que ele enfrenta. É uma narrativa que não apenas nos sensibiliza, mas também nos faz refletir sobre as barreiras que as pessoas com deficiência e da comunidade LGBTQIAP+ enfrentam, proporcionando uma visão impactante da interseccionalidade de suas experiências.

  • Pray Away: Este documentário expõe programas de conversão para gays, revelando as consequências causadas ​​pela repressão na LGBTQIA + por meio de depoimentos íntimos de membros atuais e ex-líderes do movimento ”Pray Away the Gay”, que visava expurgar a homossexualidade através da oração.

  • Manhãs de Setembro: Cassandra é uma mulher trans que trabalha como motogirl em São Paulo e que tem o sonho de ser cantora. Eu amo o plot twist dessa série quando a ex-namorada da Cassandra reaparece anunciado que eles tem um filho.

  • Orange is the New Black:  A série retrata a vida de mulheres na prisão, incluindo personagens LGBTQIAP+, abordando questões como identidade de gênero e orientação afetivo-sexual. Como não destacar o papel marcante da personagem Sophia Burset, a cabeleireira interpretada pela estrela transgênero Laverne Cox. 

  • Paris is Burning: É um clássico incontestável ao se falar do movimento de  Ballroom .
    Este documentário icônico transporta as pessoas espectadoras para a efervescente cena ballroom de Nova Iorque, oferecendo uma visão profunda e emocionante da cultura LGBTQIAP+. Com um olhar autêntico e íntimo, o filme nos mergulha nas vidas e aspirações das pessoas envolvidas nesse mundo, revelando não apenas a extraordinária arte e performance, mas também os desafios e triunfos enfrentados pela comunidade LGBTQIAP+. É um testemunho fascinante e comovente da resiliência e criatividade de indivíduos que buscam autenticidade e aceitação em um mundo que muitas vezes os marginaliza.


Cada uma dessas obras oferece uma perspectiva educativa e emocionalmente envolvente das questões enfrentadas por essa comunidade. Se você deseja explorar mais, muitas delas estão disponíveis em várias plataformas de streaming. Basta selecionar aquela que mais lhe interessa e mergulhar em seus catálogos.

Esses filmes e séries, que de alguma forma deixaram uma marca em mim, têm o potencial de serem valiosos para qualquer pessoa que os descubra, seja para uso pessoal ou para compartilhar com outras. É minha esperança que à medida que a representatividade LGBTQIAP+ continua a crescer, mais pessoas se vejam refletidas, ouvidas e validadas, pois esses espaços também pertencem a todes nós e estão destinades a ser cada vez mais ocupades e transformades pela diversidade.

COLUNISTA

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Klaus Anibal

[ELE/DELE]

Klaus Anibal é formado em Engenharia Ambiental pela Faculdade Oswaldo Cruz, com mais de 12 anos de experiência nas áreas de Diversidade, Qualidade, Treinamento e Conteúdo. Durante sua trajetória, suas especializações em Customer Journey, Green Belt e COPC ajudaram na implementação de projetos especiais que agregaram valor para o business e impulsionaram os resultados. Sua paixão por DE&P sempre esteve presente em sua carreira, construindo uma liderança inclusiva, sempre buscando criar oportunidades para grupos minoritários, heterogêneos e multi-culturais. Após liderar projetos com foco em Diversidade, Equidade e Inclusão, hoje é o primeiro representante da América Latina no board global das ERG’s da Uber.
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No Instituto [SSEX BBOX] realizamos projetos e advocacy que visam destacar a diversidade, inclusão e a equidade sobre os temas de gênero, sexualidade, população LGBTQIAP+, raça, etnia e pessoas com deficiência.

As ações do Instituto incluem apresentar ferramentas, conteúdos educacionais, e soluções estratégicas visando o exercício do olhar interseccional para grupos sub-representados. Nossas atividades tiveram início em 2011, a partir de uma série de webdocumentários educacionais que exploram temas da sexualidade e gênero para promover mudanças sociais com base nos direitos humanos.

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