COLUNA

Pri Bertucci

[ILE/DILE & ELE/DELE]

Artista social, educadore e pesquisadore da área de diversidade há pelo menos duas décadas

Alok Vaid-Menon

Redefinindo identidade, moda, comédia e ativismo

Alok Vaid-Menon é um nome que ressoa em vários domínios, da academia à moda, da comédia ao ativismo. Sua jornada é de coragem, inovação e autenticidade sem remorso. Desde seu trabalho pioneiro na academia, na Universidade de Stanford, até sua presença influente na alta moda, Alok Vaid-Menon é pioneire que está remodelando as narrativas em torno de gênero, identidade e autoexpressão. Sua incursão na comédia stand-up, com uma turnê notável na América do Latina, incluindo o Brasil, conquistou o coração do público. Em sua passagem pelo Brasil, Alok recebeu a equipe do Instituto [SSEX BBOX] para um bate-papo agradável e nos concedeu uma entrevista exclusiva, que você vai conferir aqui. 

Um estudiose queer da Universidade de Stanford

A jornada acadêmica de Alok Vaid-Menon é uma prova de seu compromisso em compreender e desafiar as normas sociais. Como estudante da Universidade de Stanford, ile investigou tópicos de gênero, raça e identidade. Suas pesquisas e discursos contribuíram para conversas críticas sobre esses assuntos, lançando luz sobre as complexidades que, muitas vezes, permanecem ocultas. A presença de Alok em uma instituição de prestígio como Stanford serve como um farol de esperança, provando que a academia pode ser uma plataforma para desmantelar estruturas opressivas.

Alta moda e redefinindo a beleza

A influência de Alok Vaid-Menon se estende ao mundo da high fashion (alta-costura), onde estão sendo redefinidos os padrões de beleza e se libertando de construções binárias. As escolhas de moda ousadas e expressivas de Alok desafiam as normas tradicionais, demonstrando que a roupa é uma forma de arte e uma poderosa ferramenta de autoexpressão. Ao abraçar seu estilo autêntico, Alok se tornou uma referência para indivíduos que buscam transcender as limitações impostas pelas expectativas da sociedade.

Os esforços criativos de Alok também incluem stand-up comedy, um reino que ile está revolucionando com sua mistura única de humor, vulnerabilidade e comentários sociais. Suas apresentações abordam temas pungentes, com inteligência e perspicácia, convidando o público a refletir sobre seus próprios preconceitos. Por meio da comédia, Alok desmonta estereótipos e usa o riso como um meio de superar as divisões e promover a compreensão.

A turnê pela América Latina: um triunfo da identidade

A turnê de Alok Vaid-Menon pela América do Sul, incluindo o Brasil, se tornou um marco significativo em sua carreira. Suas performances ressoam profundamente com o público, ávido por narrativas que refletissem suas próprias experiências. Ao compartilhar histórias e percepções pessoais, a turnê de Alok não apenas divertiu, mas também validou as experiências de indivíduos queer, lembrando-os de que suas identidades são válidas, valorizadas e celebradas.


Na abertura dos shows de sua turnê na América Latina, Alok teve a participação de artistas queers locais e de Whatever Mike, que abriu cada evento como uma cerimônia. 

“The Spiritual Journey” é uma prova da arte de Whatever Mike, apresentando uma gama de influências musicais e uma profunda exploração da espiritualidade. A capacidade de evocar emoções e inspirar introspecção é uma prova de seu poder de se conectar em um nível profundo.

A expedição Whatever Mike e Alok deixaram o público sentir e refletir mais sobre o coletivo e senso de unidade, lembrando-nos de que nossos caminhos individuais fazem parte de uma jornada coletiva maior.

A colaboração entre Alok e o Instituto [SSEX BBOX] durante seu show no Brasil foi um momento crucial para documentar e ampliar experiências queer. [SSEX BBOX], conhecido por seu compromisso em apresentar diversas narrativas, capturou a magia da performance de Alok e o impacto que teve no público. Essa colaboração serve como uma prova do poder da arte e da documentação na criação de mudanças duradouras e na promoção de um senso de comunidade mais profundo.

A trajetória de Alok Vaid-Menon é um testemunho inspirador do potencial transformador da autenticidade, criatividade e ativismo. Da academia à alta moda, da comédia stand-up às turnês internacionais, Alok continua a desafiar o status quo e a remodelar a paisagem cultural. Sua colaboração com [SSEX BBOX] não apenas documentou um momento significativo, mas também uniu duas forças comprometidas em elevar vozes e experiências queer. À medida que a influência de Alok cresce, também cresce seu legado como catalisadore de mudanças e um farol de esperança para pessoas que buscam validação, representação e coragem para abraçar seu verdadeiro eu.


Confira aqui nossa entrevista : 

O código da realidade da vida é baseado na linguagem da emoção humana e na crença focada. Quais você acha que serão os benefícios para a comunidade queer se começarmos a nos concentrar mais na cura de nossos traumas?

Eu acho que nos curar é uma das coisas mais corajosas que podemos fazer como pessoas LGBTQ+. Estamos posicionades de forma única neste mundo para lembrar as pessoas que a transição e a transformação são possíveis, que a mudança é a moeda universal do universo e o que é bonito em ser queer é nossa capacidade de mudar.

E acho que por muito tempo tivemos que ensaiar essa narrativa

de antes e depois. Mas acho que a narrativa mais curadora e honesta é se tornar é uma jornada contínua que está sempre se desenrolando. E quando nos comprometemos com isso, se curar enquanto se tornar, então, na verdade, criamos espaço para transformação, não apenas de nós mesmos, mas do mundo onde somos continuamente surpreendides e maravilhades com o que achamos ser possível.

Como você tem percebido a opressão lateral entre pessoas LGBTQIAP+ e replicação das próprias violências do cishetero patriarcado para dentro da nossa própria comunidade?

A verdade é que há mais do que suficiente para todes. Muitas vezes estamos vivendo como se estivéssemos em um aquário, mas na verdade estamos em um oceano inteiro e temos que nos mover com essa energia de expansão, o que significa que, em um nível fundamental, temos que acreditar que precisamos uns dos outres e que cada uma de nossas verdades é válida. E a versatilidade da verdade é uma das experiências mais Queer, sustentar que existem múltiplas verdades, múltiplas viagens ao mesmo tempo e resistindo às normas de gênero. Não podemos sobrepor novos e resistir à homofobia. Podemos impor um novo vetor de opressão. Temos que nos libertar da hierarquia, nos libertar da armadilha da legitimidade e criar um espaço para todas as pessoas estarem. Isso é algo lindo e abundante para todes nós. O que podemos fazer para criar esse mundo é sempre nos perguntar quem se beneficia com essa divisão? Quem se beneficia da minha insegurança? Às vezes, quando estou me criticando, que eu acho que muitas vezes é o maior árbitro de exclusão na minha vida, eu me lembro quem se beneficia com esse pensamento? Que se beneficia de eu me silenciando, me minimizando. E não são as pessoas que eu quero que se beneficiem com isso. Então, dessa forma, temos que ter nossas prioridades queer porque as héteros nos trouxeram até aqui.

A linguagem neutra já está começando a ser usada globalmente. Mais e mais pessoas estão se declarando não binárias e gênero não conforme, e isso está remodelando a maneira como pensamos sobre identidade hoje. Com isso, o crescimento do uso de pronomes neutros em termos de gênero tornou-se cada vez mais evidente, como aqui no Brasil o uso de pronomes neutros como; [Ile/Dile] está provocando um enorme debate sobre “inventar uma linguagem que não existe”. Você acha que o uso de uma linguagem neutra e inclusiva pode abrir um portal para transformar as crenças binárias na sociedade?

O que sempre me pareceu ridículo sobre as pessoas ficarem chateadas sobre as pessoas LGBTQ+ criarem uma linguagem, é que elas não se importaram conosco sendo conhecides como “nada” por centenas de anos. E ainda quando insistimos que não somos objetos, que somos sujeitos e que somos seres humanos, isso é visto como uma ameaça. Porque por muito tempo os poderosos quiseram reduzir-nos a um objeto ou a um fragmento.

E a linguagem é um local para nos humanizarmos. Torna-se uma oportunidade para acelerarmos a imaginação das pessoas sobre o que é possibilidade. Eu acho que a linguagem nos salvará de todos os nossos problemas? Não. Mas acho que é uma ferramenta muito importante para expandir nosso senso de nós mesmes.

Como está sendo a sua jornada pela América Latina ? 

Eu acredito que pessoas queer e trans existem em todo o mundo e que todo lugar no mundo deveria ser um lugar que respeita, ama e adora pessoas queer e trans. Eu não estou interessade na minha arte apenas sendo sequestrada nos Estados Unidos ou na Europa. A alegria de ser trans é que temos que ser transnacionais.Tem sido muito bonito estar aqui na América do Sul e América Latina e tantos países que eu nunca estive antes. E estar aprendendo e estar ensinando ao mesmo tempo e lembrar que fazemos parte de algo muito maior do que nós mesmos. Eu acho que muitas vezes pode parecer profundamente isolador só ser, muito mais em ser queer. Então, quando nos encontrarmos além das fronteiras, lembramos que há outras pessoas lá fora e suas próprias geografias e seus próprios tempos que estão tentando para criar o mundo para ser um pouco mais bonito, assim como nós.

COLUNISTA

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Pri Bertucci

[ILE/DILE & ELE/DELE]

Artista social, educadore e pesquisadore da área de diversidade há pelo menos duas décadas. Identifica-se como pessoa não branca, não cis, não binária, transgênero /gender queer. É CEO da [DIVERSITY BBOX] consultoria; fundadore do Instituto [SSEX BBOX], projeto pioneiro no tema de justiça social; cocriadore do “Sistema Ile”, mais conhecido como linguagem neutra na língua portuguesa. Pri também é produtore executivo da Marcha do Orgulho Trans de São Paulo, e inovou em 2023 quando criou a primeira AI não binária do mundo.
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No Instituto [SSEX BBOX] realizamos projetos e advocacy que visam destacar a diversidade, inclusão e a equidade sobre os temas de gênero, sexualidade, população LGBTQIAP+, raça, etnia e pessoas com deficiência.

As ações do Instituto incluem apresentar ferramentas, conteúdos educacionais, e soluções estratégicas visando o exercício do olhar interseccional para grupos sub-representados. Nossas atividades tiveram início em 2011, a partir de uma série de webdocumentários educacionais que exploram temas da sexualidade e gênero para promover mudanças sociais com base nos direitos humanos.

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