COLUNA

Ubiraci Pataxó

[ELE/DELE]

Aprendeu a respeitar e valorizar todo tipo de vida, e reconhecer que a força está em nossa união.

Dia de dependentes

Já podeis, da pátria filhos

Ver contente a mãe gentil…

Ó mãe! Bem que poderia ser mais generosa com esse trabalhador fastidioso que luta pela liberdade prisioneira desse nosso Brasil.

Eita! Que em minha meninice, como um soldado, ao sol, uniformizado, parado, mão no peito e a outra ao lado, de fronte e confronte a bandeira, cantava inocentemente o hino da independência brasileira. Mal sabia eu que era um prenúncio do meu grito de liberdade, que os raios ainda queimam meu desejo de emancipação.

Vai meu preto, meu indígena, meu branco, minha tribo, meu gueto, minha “brava gente brasileira”, vai, mas não vá muito longe, o temor subserviente das mãos mais poderosas ainda está aqui, forjando os alforjes dos montantes, mutantes, andando á cavalos, direcionando uma astuciosa maravilhosa vida de gado.

Ei menino! Não pense que é história para boi dormir, neste país das maravilhas a história da Alice virou crendice por aqui, nesta democracia que força-me votar naquele que é o menos pior, vou na esperança do verbo esperar e é quando desloco-me a cantar “ou ficar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil”. O sonho dessa tal liberdade tens se escapado por causa dos calos em minhas mãos, é como diz a letra deste hino, “meu peito e meus braços são as muralhas desse Brasil”, nossos muros já enfraquecidos com a sonegação do caráter e corrupção do respeito, estão jogando areia no cimento da construção do alicerce da legalidade e, “longe vá, temor servil, ou ficar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil”.

Hoje graças ao meu bom Deus eu tenho liberdade, parabéns! Hoje é o dia do meu funeral!

COLUNISTA

Ubiraci Pataxó_site

Ubiraci Pataxó

[ELE/DELE]

Ubiraci Silva Matos pertence ao povo Pataxó da aldeia de Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália, na Bahia – maior aldeia urbana da América Latina, muito famosa por ter sido palco da invasão portuguesa neste solo chamado Pindorama, conhecido como Brasil. Quando apresenta-se como Ubiraci Pataxó, sabe que está falando por toda uma comunidade, por todo um povo, por toda uma cultura. Ele é um jovem mestre do saber e aprendiz de pajé, graduado em Ciência da Natureza e Matemática, no curso de Licenciatura Intercultural Indígena, pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia. Também formado em Terapia Comunitária Integrativa (TCI), Massoterapia e Técnica em Resgate da Autoestima pela Universidade Federal do Ceará (UFC), em parceria com o Movimento Integrado de Saúde Comunitária Quatro Varas (MISMEC – Projeto 4 Varas). Atua como pesquisador nos projetos “Saúde Coletiva e Epistemologias do Sul e Interculturalidades”, na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) em parceria com Universidade de Coimbra, em Portugal e formador em Terapia Comunitária Sistêmica Integrativa no Polo de Cuidados Korihé em Santa Cruz Cabrália/BA e na Europa pela Réseau Européen de Thérapie Communautaire Intégrative. Também é membro do Comitê de Saúde Mental do Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integral (CABSI), do grupo de pesquisa “Teia das 5 Curas – Todos Nós Somos Parentes”, que envolve povos indígenas no Brasil, Peru, México e Canadá, com enfoque nas cinco curas (pensamentos, sentimentos, relações, ciclos ecológicos e trocas econômicas), da Associação Brasileira de Psiquiatria Social (APSBRA) e membro da Associação Brasileira de Terapia Comunitária Integrativa Sistêmica (ABRATECOM). Em toda a sua história, ele aprendeu a respeitar e valorizar todo tipo de vida, e a reconhecer que a força do nosso povo está em nossa união e de que “um” não pode ser mais forte de que todos nós juntes.
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