COLUNA

Claire Rumore

[ELA/DELA]

Guia da sabedoria erótica, educadora e cofundadora do Instituto [SSEX BBOX].

Do Drama ao Empoderamento

Evoluindo o Triângulo de Karpman no Ambiente de Trabalho (Parte 2)

No nosso artigo anterior, exploramos o Triângulo do Drama de Karpman e como seus papéis — Vítima, Perseguidor e Salvador — se manifestam na dinâmica do ambiente de trabalho, criando ciclos de disfunção e desempoderamento. Esta segunda parte visa nos guiar na mudança dessas dinâmicas através de uma estrutura que é o oposto do Triângulo do Drama: A Dinâmica de Empoderamento (TED). TED foi projetada para transformar a Vítima, o Perseguidor e o Salvador em versões mais saudáveis e produtivas de si mesmos. A Vítima se torna o Criador, o Perseguidor se torna o Desafiador, e o Salvador se torna o Treinador. Ao evoluir conscientemente nossa interação com as outras pessoas, podemos transformar dramas no trabalho em crescimento, inovação e colaboração, além de criar uma cultura de harmonia, mutualidade e empoderamento.

Antes de mergulharmos nesses papéis empoderados, vamos revisitar os passos necessários para identificar seu ponto de partida dentro do Triângulo do Drama. A chave para a transformação está na auto-reflexão e na investigação honesta sobre suas próprias tendências, pontos cegos e motivações.

Identificando Seu Tipo de Triângulo do Drama no Ambiente de Trabalho

Para sair do Triângulo do Drama, o primeiro passo é identificar quais papéis você frequentemente desempenha. Você tende a se sentir impotente (Vítima), tornar-se controladore ou uma pessoa excessivamente crítica (Perseguidor), ou assumir muita responsabilidade pelas outras pessoas (Salvador)? Uma vez que você identificou seu tipo, você pode começar o trabalho de evoluir para fora dele e adotar uma maneira mais saudável de se envolver.

Aqui estão alguns exemplos de como esses arquétipos se manifestam em ambientes profissionais:

A Vítima no ambiente de trabalho pode ser a pessoa que se sente constantemente sobrecarregada e impotente, acreditando que nada do que faz é bom o suficiente. A pessoa pode pensar que seu gerente está contra ela ou que sua carga de trabalho é injusta, mas raramente se manifestam ou tomam iniciativa para mudar a situação.

O Perseguidor frequentemente assume a forma de um chefe ou colega que critica quem culpa as outras pessoas por erros, microgerencia ou usa intimidação para manter o controle. Esta pessoa pode acreditar que está apenas sendo “realista” ou garantindo que as coisas sejam feitas, mas, ao fazer isso, pode perpetuar o medo e o estresse.

O Salvador pode ser uma pessoa bem-intencionada que constantemente assume tarefas extras para “ajudar” as demais pessoas, mas acaba exausta e frustrada. Embora se sinta bem ser herói, esse comportamento pode permitir que outras pessoas se tornem dependentes e os impeça de resolver seus próprios problemas. 

Evoluindo o Triângulo de Drama para a Dinâmica de Empoderamento

A Dinâmica de Empoderamento oferece uma alternativa transformadora ao Triângulo do Drama. Em vez de reagir às situações a partir de um lugar de desempoderamento, aprendemos a responder de maneira criativa, construtiva e compassiva. 

Vamos examinar os novos papéis:

Criador (Evoluído de Vítima)

Característica-chave: Propriedade

Foco: Soluções e possibilidades

O Criador assume a responsabilidade pela sua experiência e foca nas soluções em vez de se concentrar nos problemas. No ambiente de trabalho, a pessoa Criadora é uma que, em vez de se sentir impotente sob uma carga pesada de trabalho, começa a buscar soluções e a se comunicar com seu gerente para encontrar um caminho a seguir. Elas assumem a propriedade de seus desafios e buscam ativamente maneiras de melhorar sua situação e criar novas possibilidades, assim saindo do papel de Vítima.

Exemplo:
Imagine uma pessoa que tem se sentido sobrecarregada por prazos constantes. Em vez de sucumbir à mentalidade de Vítima, elas assumem o papel de Criador iniciando uma conversa com seu gerente para renegociar prioridades ou delegar tarefas. Elas também pensam em maneiras de melhorar sua produtividade ou fluxo de trabalho. Ao mudar o foco do que está errado para o que pode ser feito, elas se empoderam e se tornam um contribuidor ativo para as soluções no ambiente de trabalho.

Desafiador (Evoluído de Perseguidor)

Característica-chave: Responsabilidade

Foco: Crescimento e feedback construtivo

O Desafiador mantém a si mesmo e aos outros responsáveis, mas de uma maneira que apoia o crescimento em vez de incitar medo ou culpa. Eles confrontam questões diretamente e buscam inspirar mudanças positivas. No ambiente de trabalho, isso pode parecer um gerente que fornece feedback claro e construtivo destinado a ajudar sua equipe a desenvolver novas habilidades em vez de criticar duramente seu desempenho.


Exemplo:
Um gerente que tipicamente atua como Perseguidor pode criticar um membro da equipe por perder um prazo. Para evoluir para o papel de Desafiador, o gerente poderia fazer perguntas como, “Quais obstáculos estão impedindo você de cumprir seus prazos?” ou “Como podemos colaborar para garantir que você tenha os recursos para ter sucesso?” A mudança de abordagem ajuda a pessoa a crescer e assumir responsabilidade, enquanto ainda o mantém responsável de uma maneira de apoio.

Treinador (Evoluído de Salvador)

Característica-chave: Empoderamento

Foco: Facilitar o crescimento dos outros

O Treinador incentiva as outras pessoas a encontrar suas próprias soluções em vez de intervir para resolver problemas por elas. No ambiente de trabalho, uma Treinadora pode ser uma líder de equipe que orienta as pessoas através de processos de resolução de problemas em vez de simplesmente assumir as tarefas elas mesmos. Isso promove a independência e o crescimento pessoal dos outros, ao contrário de criar dependência.

Exemplo:
Um membro da equipe está lutando com um projeto complexo, e o instinto de Salvador poderia ser intervir e assumir a tarefa. No entanto, para evoluir para o papel de Treinador, o líder faz perguntas orientadoras, oferecendo conselhos mas encorajando o membro da equipe a desenvolver suas próprias soluções. Isso capacita o indivíduo a desenvolver habilidades críticas de resolução de problemas, que trazem benefícios de longo prazo tanto para a pessoa  quanto para a equipe.

Como os Papéis do Triângulo de Drama Evoluem para os Papéis de Empoderamento

Vamos explorar a evolução típica dos papéis do Triângulo do Drama para os papéis da Dinâmica de Empoderamento:

Vítima para Criador:
A crença da Vítima de que elas são impotentes é substituída pela posse da realidade pelo Criador. A pessoa na posição de Criador reconhece que, embora não possa controlar todas as circunstâncias, elas têm o poder de escolher como responder e podem tomar medidas proativas para melhorar.


Exemplo no ambiente de trabalho:
Em vez de se sentir ressentido por uma atribuição de projeto que elas acreditam estar além de seu nível de habilidade, a Vítima evolui para uma pessoa na posição de Criador buscando treinamento adicional ou colaborando com as outras pessoas que têm experiência naquela área. Essa mudança de mentalidade leva ao crescimento em vez de estagnação.

Perseguidor para Desafiador:
A necessidade do Perseguidor de controlar através de culpa e crítica se transforma na abordagem construtiva do Desafiador de manter as outras pessoas responsáveis de uma maneira que promove o crescimento. As pessoas na posição de Desafiador usam desafios como oportunidades para aprendizado e melhoria em vez de dominação.


Exemplo no ambiente de trabalho:
Uma gerente que recorria a críticas severas por metas perdidas evolui para uma pessoa na posição de  Desafiadora ajudando sua equipe a identificar as causas raízes do desempenho abaixo do esperado. Elas fornecem orientação e crítica construtiva, criando uma atmosfera de confiança e crescimento, não de medo.

Salvador para Treinador:
O desejo do Salvador de salvar as outras pessoas, muitas vezes em detrimento de si mesmos e daquelas que estão resgatando, se transforma no empoderamento do Treinador das outras pessoas. Em vez de intervir para resolver problemas, o Treinador guia as pessoas para resolver seus próprios desafios, o que promove independência e crescimento.


Exemplo no ambiente de trabalho:
Uma pessoa na posição de Salvador que consistentemente pega o trabalho atrasado de seu colega evolui para um Treinador ensinando-lhes como gerenciar sua carga de trabalho de forma mais eficaz. Ao dar-lhes as ferramentas e o apoio de que precisam para melhorar, o Treinador ajuda o colega a desenvolver a confiança e a habilidade de gerenciar suas próprias responsabilidades.

Quebrando o Ciclo do Drama: Passos Práticos no Ambiente de Trabalho

Para fazer a transição completa do Triângulo do Drama para a Dinâmica de Empoderamento, aqui estão algumas etapas chave que indivíduos e equipes podem tomar:

Auto-reflexão e Investigação Honesta: Reflita sobre o papel que você desempenha com mais frequência no drama do ambiente de trabalho. Pergunte a si mesmo, “O que ganho com isso?” Você está buscando validação como um Salvador? Você está se agarrando a um senso de impotência como uma Vítima? Uma vez que você identifique suas motivações, você pode começar o processo de mudança.

Estabeleça Limites Nítidos: No ambiente de trabalho, isso significa não ultrapassar seu papel ou responsabilidades. Como líder, evite a tentação de microgerenciar (Perseguidor) ou resgatar (Salvador). Em vez disso, capacite seus membros da equipe para crescer e ser responsáveis por seu trabalho.

Mude o Foco para Soluções:
Seja você um líder ou membro da equipe, mude as conversas de culpa para resolução de problemas. Encoraje uma cultura de colaboração onde desafios são vistos como oportunidades para crescimento, e cada pessoa é responsável por suas próprias contribuições.

Fomente Responsabilidade com Compaixão:
Mantenha a si mesmo e as outras pessoas responsáveis de uma maneira que promova crescimento pessoal e profissional. Isso significa oferecer feedback construtivo e apoio sem cair em culpa, vergonha ou vitimização.

Incentive a Propriedade Pessoal:
Em ambientes de equipe, incentive colegas a assumir a propriedade de seus papéis e responsabilidades. Promova um ambiente onde todes se sintam capacitades para contribuir com soluções, em vez de se sentirem desempoderades pelas circunstâncias.

Juntando Tudo: Criando um Ambiente de Trabalho Livre de Drama

Ao entender a evolução do Triângulo de Drama de Karpman para a Dinâmica de Empoderamento, as pessoas e equipes podem criar ambientes de trabalho mais saudáveis e produtivos. Tudo começa com autoconsciência e um compromisso de evoluir dos papéis de Vítima, Perseguidor ou Salvador para Criador, Desafiador ou Treinador. Esses novos papéis promovem crescimento, responsabilidade e empoderamento, transformando a dinâmica do ambiente de trabalho de tóxica para próspera.

Em última análise, a transição requer prática, persistência e paciência, mas as recompensas — um ambiente de trabalho onde os indivíduos assumem a propriedade de seus papéis, desafiam uns aos outros para crescer e apoiam o desenvolvimento mútuo — valem bem o esforço.

COLUNISTA

Claire Rumore

Claire Rumore

[ELA/DELA]

Claire Rumore é cofundadora do Instituto [SSEX BBOX]. Sediada na vibrante área da Baía de São Francisco, ela é sexóloga social e somática, educadora e mentora, dedicada ao estudo e apoio a pessoas na compreensão das dimensões internas e externas de suas orientações sexuais, expressões de gênero e identidades de gênero. Claire possui formação em psicoterapia somática, práticas de movimento tântrico e educação sexual tradicional. Ela é certificada em modalidades de exploração erótica e autoconhecimento, como Erotic Blueprints™, Urban Tantra™ e Totality Therapy™. Claire também tem experiência em gestão de projetos ágeis, inovação tecnológica e desenvolvimento e implementação de IA. Sua abordagem de trabalho combina coaching, aconselhamento, ensino e mentoria, enriquecidos por criatividade, compaixão e curiosidade, para explorar as interseções entre humanidade, sexualidade, tecnologia e evolução.
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