Uma Entrevista com Joplyn sobre música, energia e vibração coletiva
Joplyn não é apenas uma artista que faz música—ela cria experiências que unem ritmo, emoção e energia coletiva. Do hipnotismo sonoro à maneira como descreve a música como uma força invisível que nos conecta, sua perspectiva vai muito além de batidas e melodias.
Tive o imenso prazer de ver Joplyn ao vivo quando ela abriu o show de Gioli and Assia, e posso dizer que não foi apenas um show—foi um portal. Sua música não é apenas um convite para dançar, mas um feitiço sonoro que desperta forças poderosas, guiando a energia pelo corpo como uma corrente elétrica cheia de intenção. A vibração de seus beats é um ritual de invocação, e naquele dia, minha Kundalini atendeu ao chamado. Foi sexy, foi transcendental, e foi um lembrete de que certas frequências não apenas se ouvem—elas ativam.
Nesta entrevista, mergulhamos em sua visão criativa, o poder da vibração e o caráter ritualístico da performance ao vivo.
1. Você pode compartilhar um pouco sobre seu processo criativo ao produzir uma faixa como ‘Heavens Will Fall’? Quais emoções ou visões guiam você nos estágios iniciais?
JOPLYN:
Com qualquer remix, e também com Heavens Will Fall, eu ouço a faixa original e penso: Como posso acrescentar algo? Como posso transformar a essência da música em algo novo que a versão original talvez ainda não tenha? Como Heavens Will Fall é uma música profunda, épica e bela, minha primeira reação foi transformá-la em algo mais estranho, talvez um pouco mais pesado, menos melódico e harmônico. Quis trabalhar somente com os vocais e dar a eles um novo lar. Acho que as emoções e intenções que me guiam são contraste, novidade e um toque de imprevisibilidade.
2. Sua música desperta emoções poderosas e faz as pessoas dançarem. Como você vê a relação entre ritmo, vibração e o corpo humano? A música pode ser uma ferramenta de transformação? Os dançarinos são co-criadores da experiência?
JOPLYN:
Acho que vejo a música mais como uma força invisível que conecta as pessoas. Não acredito que seja algo que você pode planejar ou controlar para se sintonizar com uma frequência. É algo que simplesmente acontece quando você compartilha um espaço físico ou emocional com outras pessoas. Por exemplo, nosso batimento cardíaco se ajusta ao BPM da música que estamos ouvindo. Se você tirasse o som de uma pista de dança e apenas observasse, veria as pessoas se movendo em sincronia, levantando as mãos ao mesmo tempo, talvez até cantando as mesmas palavras. E como performer, eu lidero esse batimento coletivo. Isso tem um poder enorme—provavelmente muito maior do que conseguimos entender ainda. E acho que é por isso que a música tem um poder de unificação como nada mais no mundo. Ela literalmente faz as pessoas vibrarem na mesma frequência E sim, os dançarinos são definitivamente co-criadores da experiência. A performance não existe sem eles.
3. Você já disse que a música transmite mensagens além da linguagem. Como você cria faixas que ressoam com as pessoas em um nível mais profundo e subconsciente?
JOPLYN:
Acho que quanto mais você tenta controlar isso, menos você consegue atingir. Se você tenta planejar ou estruturar uma faixa para que ela ressoe de forma subconsciente, provavelmente não vai funcionar. O que eu sempre percebo é que se você apenas captura o seu estado emocional bruto, sem pensar demais, sem seguir regras, é aí que a mágica acontece. Acho que é porque imperfeição e humanidade são o que as pessoas mais se identificam. Não há explicação para isso. Você só precisa ser, e capturar esse momento. E esse é o grande mistério da arte… ou talvez da própria vida. Nunca saberemos por que certas coisas despertam emoções em nós. Tudo o que podemos fazer é sermos nós mesmos de forma vulnerável e honesta e ver para onde isso nos leva.
4. Quando você pensa na ‘vibração’ da música, o que vem à mente? Você a percebe mais como uma frequência com a qual podemos nos sintonizar ou como uma força invisível que nos conecta?
JOPLYN:
A ideia de vibração está muito mais ligada a uma força invisível do que a uma única frequência. Não é algo que você decide se conectar. É algo que simplesmente acontece—como quando estamos em um ambiente e nos influenciamos mutuamente, refletimos uns nos outros e trocamos estados de espírito sem perceber. A música ajusta nosso corpo biologicamente—o batimento cardíaco, a respiração, a forma como nos movimentamos juntos. É energia pura e reflexo do momento.
5. Muitas das suas músicas têm uma qualidade quase hipnótica. Você pensa conscientemente em criar esse efeito ou isso acontece naturalmente?
JOPLYN:
Acho que isso acontece naturalmente. Nunca penso no sentimento que quero evocar quando estou criando música. Apenas deixo acontecer. A única coisa que controlo são as letras. Sempre crio a melodia primeiro, porque é ela que define a energia emocional da música. As letras só vêm depois, para reforçar esse sentimento. Então, 90% do efeito hipnótico da minha música vem do que ela já era no momento em que foi criada. Talvez 10% seja um refinamento consciente, onde uso harmonia ou pequenas mudanças para direcionar a emoção.
6. A música tem sido usada em rituais e cerimônias há milhares de anos. Você vê suas performances como uma espécie de ritual moderno?
JOPLYN:
Com certeza! Se você entrar em um clube ou festival e tirar o som, verá um monte de pessoas se movendo juntas, levantando as mãos ao mesmo tempo, talvez até cantando em uníssono. Isso é uma das experiências mais coletivas que podemos ter. A música é uma linguagem primitiva. A gente não precisa de palavras para entendê-la. Ela nos direciona, nos move, nos transforma, apenas com ritmo e sensação. Nenhuma outra forma de arte faz isso de maneira tão física e visceral.
7. Há um momento especial em uma apresentação ao vivo em que você sentiu uma conexão única com o público?
JOPLYN:
Eu amo os momentos—mesmo que não sejam planejados—em que a música para por um segundo. Uma vez, em Ibiza, no Cova Santa, eu estava tocando em um clube a céu aberto sobre uma caverna. Começou a chover muito forte, e por causa da chuva, a eletricidade caiu. Bem no auge da música. Silêncio total. Apenas o som da chuva e o calor da noite. E, de repente, a multidão começou a gritar, chamando a música de volta, de uma maneira tão eufórica, tão unida, que foi um momento cru, real, de pura conexão humana. E quando a música voltou… foi uma loucura! Acho que a ausência da música por um momento fez todo mundo perceber como precisamos dela—como não podemos tomá-la como garantida. Foi um dos momentos mais bonitos que já vivi.
Joplyn vê a música como algo muito além do som—é energia, ritual, conexão. Sua abordagem intuitiva e crua nos lembra que a música nos guia, nos conecta e nos transforma.
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